quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Deixem-me Falar de Hamilton Naki

Nasceu em 26 de Junho de 1926 em Ngcingane, em Eastern Cape, numa família negra pobre. Aos 14 anos foi para a Cidade do Cabo onde se empregou como jardineiro da Universidade da Cidade do Cabo. Robert Goetz seleccionou-o para trabalhar com os animais do laboratório da faculdade de medicina. Auxiliar nas cirurgias em animais as suas habilidades técnicas foram sendo observadas e conseguiu uma permissão especial para permanecer nas pesquisas do laboratório. Fez parte da equipe liderada pelo cirurgião sul-africano Christian Barnard que realizou o primeiro transplante de coração do mundo no Groote Schuur Hospital, na África do Sul, em 1967.


Hamilton Naki é um Cirurgião Cardíaco clandestino sul-africano de 78 anos, morreu em Maio de 2005. A notícia não apareceu nos jornais, porém a sua história é uma das mais extraordinárias do século XX. Hamilton Naki era um grande Cirurgião. Foi ele quem retirou do corpo da doadora o coração que foi transplantado em Louis Washkanky em 1967 na Cidade do Cabo, no primeiro transplante cardíaco realizado com êxito. Naki era o segundo homem mais importante na equipe cirúrgica que fez o primeiro transplante cardíaco da história, porém, não podia aparecer porque era um negro no país do Apartheid.


O Cirurgião chefe do grupo, o branco Christian Barnard, tornou-se rapidamente numa celebridade de forma quase instantânea. Hamilton Naki não podia estar presente nas fotografias da equipe, uma vez quando por descuido apareceu numa dessas fotografias, o Hospital emitiu um comunicado informando que se tratava do empregado dos Serviços de limpeza. Embora este Homem usa-se máscara e bata nunca estudou medicina ou cirurgia, abandonou a Escola quando tinha 14 anos de idade. Era um Jardineiro da Universidade de Medicina da Cidade do Cabo, onde trabalhava com animais e foi aprendendo a técnica cirúrgica com os cirurgiões sempre que estes efectuavam as suas cirurgias experimentais em cães e porcos. Transformou-se assim num grande cirurgião, embora clandestino, que Dr. Barnard fez questão de convidar para trabalhar na sua equipe, no entanto era um problema para as leis sul-africanas.



Naki, negro, não podia operar doentes ou tocar em sangue de brancos. Como o Hospital onde trabalha o achava muito importante conseguiu torna-lo num médico clandestino que foi continuamente estudando e dando o melhor de si, apesar da discriminação que lhe faziam.
Dava aulas aos estudantes brancos mas ganhava o salário de técnico de laboratório, o máximo que o hospital podia pagar a um negro. Hamilton Naki ensinou cirurgia durante 40 anos e reformou-se com uma pensão de jardineiro, de 275 dólares por mês.


Quando o apartheid terminou, concederam-lhe a National Order of Mapungubwe em 2002 e o título de Medicina honoris causa pela Universidade da Cidade do Cabo, em 2003.


Nunca reclamou das injustiças que sofreu ao longo de toda a sua vida.

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