sábado, 29 de agosto de 2009

São João suspende médico e faz queixa-crime


O Centro de Cirurgia Torácica do Hospital de São João está a viver uma guerra psicológica com um médico interno, que após um pedido de suspensão, tem feito insultos e ameaças à equipa, usando um blogue em que divulgou greve de fome
Um blogue com palavras insultuosas a directores do Hospital de São João, ameaças a colegas e o uso de uma T-shirt com a cruz suástica ditaram ontem a suspensão de um médico interno do Centro de Cirurgia Torácica. A administração do hospital não só mandou instaurar um processo disciplinar ao brasileiro Gilson Alves como vai mesmo avançar com um processo-crime, para além de que solicita a protecção policial para os profissionais visados.
Na base da insólita situação está, segundo a versão de Gilson Alves, transcrita no seu blogue pessoal, o facto de este ter criticado o seu director de serviço por obrigá-lo a "horários desumanos", dando como exemplo um caso em que terá cumprido 72 horas em quatro dias. A partir daí, o interno queixa-se de ter sido vítima de perseguição e assédio no seu local de trabalho, o que motivou o início de uma greve de fome a 29 de Junho que deu origem ao blogue: Greve de fome em directo.
Um comentário anónimo publicado no seu próprio blogue dá, no entanto, outra versão dos factos. "Além de ter uma atitude bélica em tudo o que faz, a principal razão por que foi afastado é que desobedeceu persistentemente às recomendações e ordens dos seus orientadores, culminando com a extracção autónoma e intempestiva da cânula aórtica durante uma cirurgia cardíaca em que assistia o director de serviço. O doente não morreu por sorte e experiência do cirurgião", refere o comentário, que adianta ter existido uma recusa dos colegas a operar com ele, bem como um pedido de avaliação psiquiátrica.
O DN tentou obter a versão dos factos de Gilson Alves, por correio electrónico, mas não obteve resposta em tempo útil.
A 2 de Julho, um esclarecimento do serviço de cirurgia, subscrito por onze médicos, defende que Gilson Alves "tomou um conjunto de atitudes inadequadas e impróprias de um profissional médico numa área clínica com as exigências da cirurgia torácica", quer dentro do serviço, quer após o seu pedido de suspensão do internato.
Por esta altura, Gilson Alves, já tinha lançado na Internet a "Petição reintegração imediata do dr. Gilson João Alves", para que fosse reposta a "legalidade" e que chegasse ao termo o "assédio psicológico". Segundo o próprio, a petição foi subscrita por 158 pessoas.
Na última terça-feira, reagindo ao pedido de suspensão, Gilson foi explícito nos insultos. Referindo-se ao director clínico, escreve "o sacana nojento filho da mãe continua a passear aquela careca nojenta pelos corredores". E passa ao ataque: "No final disto tudo, poderá não restar muito de mim para contar, contudo, por cada grama que eu perder vou fazer perder 1000." Anunciando que "a guerra começou", Gilson diz que "a partir de hoje, ou aqueles que destruíram a minha vida marcharão sobre o meu cadáver ou marcharei sobre o deles".
Contactada pelo DN, a administração do hospital não faz comentários.

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